Partes de poemas de Camões E vivo o puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
Se tomar minha pena em penitência
do erro em que caiu o pensamento,
não abranda, mas dobra meu tormento,
a isto, e a mais, obriga a paciência.
um espalhar suspiros vãos ao vento,
em vós não faz, Senhor, movimento,
fique meu mal em vossa consciência.
E se de qualquer áspera mudança
toda a vontade isenta Amor castiga
(como eu vi bem no mal que me condena);
e se em vós não se;entende haver vingança,
será forçado (pois Amor me obriga)
que eu só de vossa culpa pague a pena.
Se pena por amar vos se merece,
quem dela livre está? Ou quem isento?
Que alma, que razão, que;entendimento,
em ver vos se não rende e obedece?
Que mor glória na vida se;oferece
que ocupar se em vós o pensamento?
Toda a pena cruel, todo o tormento
em ver vos se não sente, mas esquece.
Mas se merece pena quem amando
contino vos está, se vos ofende,
o mundo matareis, que todo é vosso.
Que poderei do mundo já querer,
que naquilo em que pus tamanho amor,
não vi senão `desgosto e desamor,
e morte, enfim, que mais não pode ser!
Pois vida me não farta de viver,
pois já sei que não mata grande dor,
se cousa há que mágoa dê maior,
eu a verei; que tudo posso ver....
Olhai como Amor gera num momento,
de lágrimas de honesta piedade
lágrimas de imortal contentamento
Nenhum comentário:
Postar um comentário